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Conhecendo-se

Escolha um trabalho que ama e não terá que trabalhar um único dia em sua vida.

Confúncio

socrates

Conhece-te a ti mesmo

Profissão ou Trabalho

Freqüentemente nos deparamos através da literatura corrente com informações e experiências dos considerados gênios da humanidade, tais como Albert Einstein e Newton, na filosofia de Sócrates que apesar de não ter deixado nada escrito é lembrado por seus ensinamentos tem mais de 2 mil anos e mais recentemente em Marx Freud e Nietzsche os grandes expoentes da chamada pós modernidade e que já carimbaram o seu lugar na história.

O que será que eles tinham de diferente de nós? Seriam seus padrões de excelência apenas um sonho?

No mundo de hoje, pais cujos filhos atingiram 15 ou 16 anos de idade, já começam a se apavorar sobre o futuro profissional deles, perguntando-se. Em que carreira meu filho será bem sucedido?  Hoje é muito comum aceitar  que o filho assista o que quiser na TV, coma o que quiser, e usufrua de todos os mimos proporcionados por nossa sociedade, agora escolher a profissão correta e a que vai lhe proporcionar bastante dinheiro, isso os pais não abrem mão. Mas será que esse é o caminho?

O filósofo Renato Janine Ribeiro lembrou certa vez que das pessoas que ele conhecia, nem sempre as pessoas que escolheram as profissões chamadas garantidas, médico, engenheiro ou Advogado deram certo na vida, por outro lado as que escolheram as que não davam em nada, como exemplo a própria Filosofia se deram muito melhor.

Uma pesquisa do CNE (Conselho Nacional de Educação), mostrou em 2006 que grande parte das pessoas que estão em um curso universitário, o fazem por acharem que irão melhorar sua condição de vida, por outro lado esse mesmo instituto mostra que 30% dos médicos formados não trabalham como médicos, e que na área de humanas dentre as  quais,  Administração, Letras e Pedagogia tem apenas 30% de seus profissionais  trabalhando na área. Em direito a situação ainda é pior 7 em cada 8 não passam no exame da ordem.

Agora porque será que chegamos a essa situação? Porque temos tantas pessoas infelizes em suas profissões?

O próprio instituto que realizou a pesquisa sugere uma resposta, segundo eles, a representatividade daqueles que não atuam em sua área escolhida mostra um problema maior: o modelo de ensino brasileiro. Os jovens têm de fazer escolhas muito cedo. O estudo no Brasil é profissionalizante, a pessoa escolhe a área para conseguir um emprego, entra na universidade para conseguir um espaço no mercado de trabalho e depois descobre que tem que esperar cinco anos para conseguir a vagas.

A resposta sugerida pelo instituto que organizou a pesquisa, explica parte do problema, agora pior é fazer a escolha precoce e ainda de forma errada. O problema  então ganha outra variável.

Emprego ou Carreira

Robert Wong certa vez ao ser questionado sobre esse tema, explicou de forma muito simples defendendo a seguinte idéia, “Resultados não trazem felicidade, mas felicidade traz resultados. O mesmo autor nos escreveu que de sua experiência de 20 anos como Recrutador de Talentos, notou sempre muita tristeza, insatisfação e angústia nas empresas e em especial em seus dirigentes, já que ao perguntar a alguém sobre o que estaria fazendo se pudesse apagar a realidade, raramente ouvia a resposta mais natural, “faria o que estou fazendo agora”, o que sinalizava para ele um sinal de grande frustração.

O próprio Wong nos presenteou com uma provável resposta a essa frustração, analisando a pirâmide de Maslow e a pirâmide de realização do trabalho essa última talvez criada por ele mesmo.

Pirâmide de Maslow

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Pirâmide de Maslow

Pirâmide da Realização do Trabalho

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De forma resumida a pirâmide Maslow nos diz o seguinte, o homem é motivado por necessidades organizadas numa hierarquia, isto quer dizer que uma necessidade de ordem superior surge somente quando a de ordem inferior for satisfeita, nos ensinamentos de McGregor temos o seguinte de forma resumidamente:

Necessidades Fisiológicas

O homem é um animal dotado de necessidades; assim que uma de suas necessidades é satisfeita, surge outra em seu lugar.  Esse processo não tem fim: é contínuo, desde o nascimento até a morte, as necessidades básicas podem ser assim resumidas comer, beber, ir ao banheiro entre outras. Quando ele come e a fome cessa de ser motivação importante.

Necessidades de Segurança

Quando as necessidades fisiológicas estão razoavelmente satisfeitas, as necessidades localizadas no nível imediatamente superior começam a dominar o comportamento do homem; começam a motivá-lo.  Essas são as chamadas necessidades de segurança.

Necessidades sociais

Quando as necessidades fisiológicas do homem estão satisfeitas e ele não está mais temeroso a respeito do seu bem-estar físico, suas necessidades sociais tornam-se importante fator de motivação de seu comportamento; necessidades de participação, de associação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade e afeto vêm a tona.

Na verdade, a administração sabe da existência dessas necessidades, mas, erroneamente, acha que elas representam certa ameaça à organização.  Muitos estudos demonstram que o grupo de trabalho bastante unido e dotado de grande coesão é muito mais eficiente para a realização dos objetivos da organização do que indivíduos isolados.

Necessidades do ego

Acima das necessidades sociais – aquelas que não motivam até que necessidades de nível mais baixo estejam razoavelmente satisfeitas – estão outras da maior importância para a administração e para o próprio homem.  São as necessidades do ego, as quais pertencem às duas classes:

1.         Necessidades relacionadas com o amor-próprio: autoconfiança, realização, competência, conhecimento, independência.

2.         Necessidades relacionadas com a própria reputação: “status”, reconhecimento, aprovação, respeito.

Diversamente do que ocorre com as de nível mais baixo, essas necessidades são raramente satisfeitas: o homem procura indefinidamente mais satisfação dessas necessidades, assim que se tornam importantes para ele.  Mas elas não surgem de maneira significativa até que as necessidades fisiológicas, sociais e de segurança estejam razoavelmente satisfeitas.

A organização industrial típica oferece poucas oportunidades de satisfação dessas necessidades egoístas para as pessoas colocadas nos níveis mais baixos da hierarquia.

Necessidade de auto-realização

Finalmente – na hierarquia das necessidades humanas – há o que podemos chamar de necessidades de auto-realização.  Essas são as necessidades de cada um realizar o seu próprio potencial, de estar em contínuo auto-desenvolvimento , de ser criador no sentido mais alto do termo.

Está claro que as condições da vida moderna dão apenas oportunidades limitadas para que essas necessidades, relativamente fracas, obtenham expressão.  A privação que a maioria das pessoas experimente com respeito a necessidades de nível inferior desvia suas energias para a luta pela satisfação daquelas necessidades, sendo assim as necessidades de auto-realização permanecem inativas. Maslow afirmou que menos de 2% das pessoas chegam ao topo dessa pirâmide, pois nesse ponto a pessoa realizaria tudo aquilo que podia ser.

Pirâmide de Realização do Trabalho

Nessa pirâmide a primeira necessidade é o emprego, uma fonte de renda, um salário, para nos garantir o atendimento de nossas necessidades básicas,. Entretanto o emprego não é garantia de renda nos dias de hoje, pois podemos ser demitidos a qualquer momento. Uma das marcas da pós-modernidade e exatamente essa insegurança.

Como o emprego não garante nada então como adquirir essa segurança, mesmo que mínima, o segundo degrau dessa pirâmide é a profissão, procuramos então a faculdade, para sermos médico, dentista, engenheiro, Administradores etc.

Nesse nível da pirâmide tanto o Administrador, como o Engenheiro, almejam uma posição melhor, querem ser executivos e porque não presidentes das empresas em que trabalham, teríamos então no terceiro degrau, a carreira.

Nesse nível começam as nossas maiores frustrações, pois se de um lado o desejo de ascensão é natural, as dificuldades também, podemos dizer que nesse ponto temos uma frustração que nos prepara para outra frustração ainda maior.

As frustrações tendem a aparecer nesse nível em nossa sociedade, pois a maturidade traz de reboque um maior nível de consciência de si próprio, e ai o que fazer, desistir de tudo e começar tudo novamente, imagine-se Gerente Financeiro percebendo que o seu grande sonho é recursos humanos.  Infelizmente diante desse quadro não há motivação que se sustente. E agora?

Chegamos ao quarto nível da pirâmide, se nem emprego nem profissão nos conferem segurança, nem tão pouco carreira, o que poderia nós conferir a tão sonhada liberdade e independência.  Chegamos então a vocação, cuja palavra evidencia bem seu papel aqui, do latim “vocare” que quer dizer chamar, portanto seu chamado, sua voz interior e que só você entende,  e infelizmente não podemos terceirizar essa descoberta. Ninguém fazer isso por nós. Ficamos presos aos barulhos externos e ao estresse do dia a dia sem ouvir o que verdadeiramente esconde a nossa verdade pessoal.

No topo dessa pirâmide, temos algo muito especial e que poderia esclarecer como seria a verdadeira auto-realização descrita por Maslow – Missão –  especial pela verdade que nela se esconde, a verdade inconteste de cada individuo, a verdade que esconde  de fato o verdadeiro potencial de todo o ser.

O filósofo Paul Tillich em uma de suas abordagens condizentes com as conclusões de Maslow, nos legou a seguinte definição para auto-realização, Tillich acredita que, na verdadeira integração, a essência e o espírito do indivíduo não são apenas mantidos, mas aperfeiçoados pela livre integração do eu com o mundo que existe ao nosso redor, mesmo considerando o pensamento ocidental mecanicista e não holístico.

talentos

E agora? Onde você se encontra aqui nessa pirâmide?

Como é que eu faço para atingir o meu pleno potencial? A figura acima nos mostra que o acesso não é fácil, então como se daria isso.

A resposta a essa pergunta é relativamente fácil, porém de trajeto difícil –autoconhecimento – objetivo de poucos nos dias de hoje.

O autoconhecimento traz na sua esteira o mais importante característica para o seu sucesso, a autoconfiança, portanto quem está nesse caminho, já está no caminho certo. Hoje muito se estuda sobre esse assunto e já é sabido que nesse caminho a sua autoconfiança alimenta o seu próprio desenvolvimento, quanto mais eu me conheço mais eu confio e assim sucessivamente, esse é o primeiro passo para eu encontrar a verdadeira auto-estima, que alimentará ainda mais esse processo até que se atinja um dos sentimentos mais nobres para a realização do homem como essência e descrito muito bem por Aristóteles, liberdade. Desde a mitologia grega, passando pela Grécia de Sócrates muito se falou, ramificações para uma mesma palavra surgiram, com até mais requinte, mas o mais importante e que os caminhos até ficaram mais fáceis, nós é que se distanciamos deles.

Então o que se tem hoje nesse contesto.

PERSONAL BRANDING

Hoje nos ouvimos falar muito em Personal Branding, que pode ser definido como um projeto pessoal constituído de ações planejadas e desenvolvidas com o objetivo de posicionar o próprio “indivíduo” como uma marca de prestígio, nesse processo sua postura firme e consistente evidenciará seus seus diferenciais pessoais e profissionais.

Essas ações objetivam a construção da imagem de um indivíduo para o mercado e a sociedade nos quais ele quer fazer diferença e ser reconhecido.

Diferentemente do coaching, que cuida especificamente do desenvolvimento de competências, o Personal Branding visa transformar o profissional em uma marca reconhecida e admirada e o primeiro passo para isso é autoconhecimento.

O Personal Branding pode ser realizado com profissionais de todos os segmentos e níveis, como altos executivos, empresários, médicos, esportistas e consultores, entre outros.

O primeiro passo na construção do Personal Branding é o autoconhecimento, aspecto fundamental desse processo, sendo assim sem desconsiderar as exigências reais de mercado, comece pelo conhecimento de si. Associe sua capacidade técnica a sua competência, ao seu diploma, ao empenho constante e disciplinado do autoconhecimento.

Na trilha do autoconhecimento como já mencionamos, melhoramos nossa autoconfiança e despertamos os verdadeiros fatores motivacionais que temos em nosso ser, nesse processo vamos perceber o despertar da nossa verdadeira motivação e conseqüentemente a criatividade que irá nos guiar em nosso desenvolvimento profissional e pessoal, rumo a nossa realização como ser humano.

A motivação é tudo para o sucesso de qualquer empreendimento, nos dias de hoje gastam-se enormes quantias de recursos nas empresas em palestras e treinamentos, com o objetivo de motivar suas equipes, exatamente por acreditar nos resultados práticos desse investimento. O motivo é justo, não há dúvida de que uma equipe motivada seria o diferencial de qualquer empresa. O problema é acreditar que apenas um bom palestrante pode ser o diferencial para a busca desse sucesso, fazendo a equipe de colaboradores produzir mais e melhor. Essas empresas inda acreditam ser possível inserir paixão no coração de alguém, pois imaginam que aquele momento de euforia, no auditório, será capaz de suprir todas as necessidades da organização, como pensar estrategicamente, desenvolver competências e começar a se preocupar de verdade com o mercado.

Um dos grandes palestrantes da atualidade Claudio Tomanini, professor da Fundação Getulio Vagas e que já palestrou para mais de 80 mil pessoas tem um slogan próprio e bem sugestivo para esse assunto, “Motivação não é algo que se dá, é algo que se tem” e complementa, a verdadeira motivação está na resposta as seguintes indagações, O que é  que me motiva? Será que eu acordo fazendo aquilo que eu gosta de verdade?  No que é que eu sou apaixonado?

A motivação está diretamente relacionado ao nosso motivo para agir, trazendo para o nosso dia-a-dia é até mais fácil entender. Vamos pensar em algo que nos dá prazer — brincar com nossos filhos, viajar com a esposa, saborear uma bela refeição, ler um bom livro e por que não praticar um esporte e certamente ninguém precisaria nos pagar para façamos quaisquer dessas ações. Por quê? Porque aqui nós estamos  motivados para agir. A motivação é verdadeira porque é intrínseca, não vem de fora. Robert Wong vincula essa motivação a atitude e esta ao autoconhecimento, portanto uma coisa depende da outra.

O autoconhecimento é na verdade, a única coisa que realmente motiva o ser humano, uma vez que a motivação vem de dentro para fora e não de fora para dentro. Ninguém motiva uma pessoa, o máximo que pode ser feito por um terceiro é incentivar e hoje é muito comum confundir incentivo com motivação.

Crie oportunidades para se conhecer melhor enquanto ser humano, no conceito de: “aquele que pratica a ação”, ou seja, aquele que é dono de seus próprios atos. Os meios estão disponíveis a todos, palestras, livros, a universidade, bons amigos e acima de tudo a internet que hoje é uma fonte inesgotável de conhecimento.

Diante dessas observações, vamos finalizar então com uma leve reflexão, que tal reservarmos mais tempo a nós, para buscarmos os meios para se descobrir como nós realmente somos, com nossas particularidades, defeitos, qualidades e reais possibilidades.

Acredito que esse seja o caminho. Pense que o seu sucesso pessoal poderá começar no momento em que você crer e praticar a máxima – conhece-te a ti mesmo- não se assuste se ao assumir esse caminho, você perceber que gradualmente seus horizontes irão se ampliar, abrindo novas fronteiras no seu mundo pessoal, assuma esse compromisso consigo mesmo que o resto virá como um presente.

Hebhert Oliveira – Natureza Celestial

Bibliografia consultada:

Rico de Verdade – Roberto Adami Tranjan – 2008

O Sucesso está no Equilíbrio – Robert Wong – 2008

Resiliência – Eduardo Carmello – 2008

A estratégia do Oceano Azul – W Chan Kim e Renée Maubargne

A Grande Virada – Nicholas Imparato e Oren Harari

O Lado Humano da Empresa – Douglas Mc Gregor – 1960

Roberto Tomanini – Palestra proferida no curso de Pós graduação da Fundação Getulio Vargas em fevereiro de 2009

A metafísica de Aristóteles como concepção de realidade – História da Filosófica de Danilo Marcondes

 

 

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Conosci te stesso

 

O “conhece a ti mesmo” e o pecado original do filósofo

“Você viu isso com seus próprios olhos?” – a toda hora fazemos cobranças desse tipo, quando as pessoas falam de coisas, situações e acontecimentos que temos dificuldade em acreditar.  Damos uma enorme importância para o testemunho direto dos sentidos e, em especial, ao da visão. O olho é o privilegiado. Uma boa parte das metáforas que usamos na nossa linguagem são metáforas visuais ou ligadas ao olho. Falamos em “visão” para concepção ou para perspectiva. Falamos em “um olhar” para um tipo de interpretação. Ficamos muito satisfeitos quando o testemunho é direto dos olhos e, se usamos algum aparelho, é para potencializar os sentidos. Desse modo nos agarramos a microscópios e telescópios.

Confiamos nos nossos olhos e nos apresentamos a partir de nosso rosto. Maquiamos nossos rostos e nos preocupamos em mantê-los limpos. Eles não dão nossa identidade mais imediata. Os olhos, como a Bíblia disse, são as janelas da alma. E para que nossa alma não se apresente sempre da mesma cor, o que seria bem monótono, criamos lentes que servem antes para embelezar os olhos e mudar o rosto que para ampliar ou corrigir a visão.

Tudo se passa de modo tranqüilo, até o dia em que descobrimos que vamos morrer sem nunca poder ver nossa própria face, muito menos, é claro, nossos olhos. Podemos ver nossas mãos e uma boa parte de nosso corpo. Em tese, até órgãos internos podemos ver diretamente. No entanto, quanto ao nosso rosto, exatamente o elemento que diz para os outros o que somos por meio de expressões que temos dificuldade de controlar, nós sempre seremos testemunhas indiretas.  Temos o espelho. Sim! Mas podemos pensar o seguinte: e se os espelhos, por uma estranha propriedade que nunca nos demos conta, jamais apresentaram fidedignamente nosso rosto?

Imagine alguém solitário em uma ilha desde pequeno. Ele tem o espelho e pode, com sua inteligência, imaginar que o que ali aparece é o seu rosto. Todavia, ele não tem nem outros e nem instrumentos para colaborar no testemunho disso que toma como certeza. Um dia essa pessoa morre e é achado o seu corpo. Os marinheiros que descem na ilha descobrem, então, que aquilo que ele tinha como espelho era uma superfície tão lisa, parecida com um espelho, mas era uma máquina. Era um pequeno computador que criava uma imagem de quem o mirava, e a partir daí, por meio de um software interno sofisticado, passava a contar os dias e envelhecer normalmente a imagem ali posta, diante daquele que o mirava. Tudo corria de modo lógico na mais perfeita ordem e, no entanto, jamais aquele que ali viveu viu de fato o seu rosto. Morreu acreditando ter uma face, quando na verdade tinha outra.

Justamente a parte que mais nos importa para representar o que acreditamos que somos – o rosto – não é o que podemos ver diretamente. Alguns, com pouca experiência de convivência com o espelho ou com filmes de si mesmo, se espantam ao ver que suas expressões mudam e forma vincos e covas e formas de rir e corar que elas jamais pensaram que produziam. Mas, mesmo os que se apresentam diante de espelhos e filmes e tornam suas imagens banais, não sabem quem são. Não possuem o rosto sob seu campo visual como possuem uma boa parte do resto do corpo. O rosto, porta de nossa identidade, nós não vemos. Os olhos, janela da alma, nós não miramos.

Começa daí a filosofia de Sócrates: “conhece a ti mesmo”. Foi o que Sócrates tomou do Templo de Apolo. Não tomou nesse exclusivo sentido, mas é necessário saber que o “conhece-te a ti mesmo” não é algo simples. O que é mais difícil de conhecer somos nós mesmos, pois, só para termos uma idéia disso, basta notar essa situação do rosto. Ele, que sustenta os olhos, não se vê.  Já daí emerge toda a importância da inscrição do Templo de Apolo. Não é uma coisa fácil de levar a sério, de seguir. Estamos impedidos de realizá-la em seu plano que, em um primeiro momento, seria o mais fácil. Ora, quando nos damos conta que o nosso próprio rosto perecerá sem nunca se apresentar aos nossos olhos, é aí que começamos a ver que o “conhece a ti mesmo” não estava ali, no Templo, como uma brincadeira de Apolo. Conhecer a si mesmo, em princípio, se depender de enxergarmos ao menos uma vez nosso rosto, é uma tarefa impossível.

Não podemos ver nosso rosto e, então, nosso comportamento é sempre estudado indiretamente. Ou nos filmamos ou temos de ter o testemunho de um terceiro. Para escapar disso, pensamos em tomar nosso “eu” não como sendo nosso rosto e nosso comportamento, e sim como sendo o que expressamos de nosso “interior”. Eis então que percebemos que não temos facilidade nisso. Ao contrário, só podemos falar de nós mesmos, de nossos sentimentos, uma única vez. Quando falamos do que qualificamos como sendo o mesmo sentimento ou a mesma sensação, não podemos confiar na memória, por motivos óbvios,  e não temos uma regra objetiva para garantir que estamos, efetivamente, falando da mesma situação.  Uma dor de cabeça A em um dia X não tem como ser igualada com uma dor de cabeça B em um dia Y. Nada nos ensina o caminho para equacionar algo como A = B ou A ? B.

Assim, seja pelo conhecimento do nosso rosto ou pelas disposições de sentimentos e sensações, nosso conhecimento de nós mesmos é indireto e nunca poderemos dizer que temos certeza do que afirmamos sobre nós mesmos. Na prática, podemos aumentar a capacidade de eliminar várias coisas que nos atrapalham para a realização de tal tarefa. Todavia, em uma situação de experimento filosófico, não temos como pensar em algo que nos dê uma posição tranqüila para levar adiante a sugestão do Templo de Apolo.

Sócrates não tomou suas dores ou sua face como importantes para o auto-conhecimento. Também não tomou os sentimentos. Sócrates criou um subterfúgio para responder essa pergunta, o “conhece a ti mesmo”. Ele acoplou o eu ao conhecimento e, então, investigou o que ele sabia e o que ele não sabia. Ligou o “eu” ao saber, e então buscou checar o saber. E para tal usou os outros como espelhos intelectuais. Além do mais, construiu um método para tal, o elenkhós, o método da refutação, para que pudesse estocar os interlocutores e, então, ver em que pé ele próprio se encontrava quando ao conhecimento procurado.

Sócrates foi um gênio por ter escapado das situações de investigar a si mesmo a partir da primeira pessoa, ou seja, por introspecção. Mais ainda por escapar da investigação por meio da terceira pessoa, ou seja, pela observação que outros teria de seu comportamento corporal inteiro e, especialmente, facial. Ele fixou sua atenção em um “eu” que apenas se preencheria pelo seu saber e, na forma de admoestação somente, pelo seu daimonion.  Assim, já desde a primeira tarefa posta pelos deuses, o filósofo, não tendo como resolvê-la, encaminhou-se por um subterfúgio. Uma saída inteligente, sim, genial mesmo. Todavia, já aí se tratava não de uma resposta, de um seguir, mas de um desvio, de uma forma de ludibriar o deus do Templo.

A partir daí, a filosofia nunca mais respondeu suas perguntas. Ela aprendeu com Sócrates, para o bem e para o mal, que o que deveria fazer era buscar desvios. Assim, os filósofos passaram antes a colocar novas perguntas que responder as velhas. E estão nisso até hoje. Quem sabe o fato de estarem nisso até hoje não tenha sido uma maldição dos deuses, por essa tentativa inicial de enganá-los? Se assim é, haverá alguém irá redimir todos os filósofos, admitindo aos deuses que houve, no início, uma finta? Caso não, a filosofia não terá fim. Estaremos eternamente condenados a filosofar.

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.

 

 

 

 

Krishnamurti

“INSIGHT”

Jiddu Krishnamurti

Pergunta: “Insight” não é intuição? O senhor poderia discutir essa súbita clareza que algumas pessoas têm? O que o senhor entende por “insight”? Trata-se de algo momentâneo ou pode ser contínuo?

Durante as várias palestras já realizadas, o orador tem usado a palavra “insight”. Isso significa ver dentro das coisas, dentro do mecanismo total do pensamento, dentro do mecanismo total, por exemplo, do ciúme. É perceber a natureza da veracidade, ver todo o conteúdo da tristeza. Não é análise, não é exercício da capacidade intelectual, nem o resultado do conhecimento. Conhecimento é aquilo que tem sido acumulado através do passado pela  experiência, e é armazenado no cérebro. Não há conhecimento total; portanto, junto ao conhecimento, há sempre ignorância, como dois cavalos atrelados. Se a observação não está baseada no conhecimento, ou na capacidade intelectual ou raciocínio, no estudo e análise, então o que é? É esta toda a questão.

Pergunta o consulente: trata-se de intuição? Essa palavra, “intuição”, é, pode-se dizer, uma palavra ardilosa, que muitos usam. A realidade da intuição pode ser o resultado do desejo. Uma pessoa pode desejar algo e, então, após alguns dias, ter uma intuição sobre isso. A pessoa pensa que essa intuição é extraordinariamente importante.

Porém, se o caso for tratado com razoável profundidade, pode-se descobrir que ela é baseada no desejo, no medo, ou em várias formas de prazer. Fica-se então em dúvida quanto a essa palavra, especialmente quando é usada por pessoas um tanto românticas, imaginativas, sentimentais e que buscam algo. Elas certamente teriam intuições, mas estas estariam baseadas em algum desejo obviamente dissimulado. Por isso, ponham de lado, por enquanto, a palavra intuição.

Portanto, o que é insight?  É perceber algo instantaneamente, algo verdadeiro, lógico, sensato, racional. O insight deve operar instantaneamente. Não se trata de se ter um insight e não se fazer nada a respeito. Se uma pessoa tem um insight dentro da natureza total do pensamento, há uma ação instantânea. Pensar é a resposta da memória.

Memória é experiência, conhecimento, armazenados no cérebro. A memória responde: onde você mora? – você responde. Qual é o seu nome? – há uma resposta imediata. O pensamento é o resultado ou a resposta do acúmulo de experiência e de conhecimento, armazenados como memória. O pensamento baseia-se em, ou é produto do conhecimento; o pensamento é limitado porque o conhecimento é limitado. O pensamento não pode jamais incluir tudo; portanto, ele é eternamente restrito, limitado, estreito.

Por outro lado, um insight  significa que há uma ação que não é uma simples repetição do pensamento. Ter um insight,  digamos, da natureza das organizações significa que está se observando sem recordações, sem argumentação pró e contra; é somente observar o movimento e a natureza totais da necessidade de organização.

Uma pessoa tem um insight disso e, a partir daí, ela age. E essa ação é lógica, sensata, saudável. Uma pessoa não pode ter um insight e agir de modo oposto; isso não é um insight.

Tenham um insight,  por exemplo, das mágoas e sofrimentos que uma pessoa trouxe de sua infância. Todas as pessoas são magoadas, por várias razões, desde a infância até a morte. Há essa ferida, nelas, psicologicamente.

Pois bem, tenha um insight  da total natureza e estrutura dessa mágoa. Você está magoado, ferido psicologicamente? Você pode ir a um psicólogo, a um analista, a um psicoterapeuta, e ele poderá descobrir porque você está magoado; na sua infância, sua mãe era assim, seu pai era de outro jeito, e assim por diante, mas não será pela mera investigação da causa que a mágoa será resolvida. Ela está lá. As conseqüências dessa mágoa é o isolamento, o medo, a autodefesa, para evitar que você seja ferido novamente; portanto, há o fechamento em si próprio. Você conhece tudo isso. Esse é o mecanismo da mágoa. A mágoa é a imagem que você criou de você mesmo. Por isso, enquanto essa imagem permanecer, você estará ferido, obviamente.

Pois bem, ter um insight  disso tudo sem análise – percebê-lo instantaneamente – essa própria percepção é insight; ela exige toda a sua atenção e energia; nesse insight  a mágoa é dissolvida. Ele dissolverá sua mágoa completamente, não deixando nenhuma marca; portanto, ninguém jamais poderá feri-lo outra vez. A imagem que você criou de você mesmo não existe mais.

  • Pare de procurar por alguém… atraia-o!

Se não sabemos o que é bom para nós, como queremos saber o que é melhor para os outros? Nossos relacionamentos dependem do tipo de relação que temos com nosso ser interior. Quando essa condição passa a ser prioridade, o Eu Superior colabora para que só apareçam relacionamentos evolutivos.

A grande maioria dos seres humanos possui uma grande capacidade de avaliar, observar, criticar e julgar o seu semelhante e, na verdade, deveria gastar seu tempo e energia colocando a si mesmo na berlinda, para ganhar condições de viver plenamente, com toda potencialidade de seu ser interno.

Cada indivíduo lida em sua vida com aquilo que precisa para evoluir e, quando ele se entrega de corpo e alma a essas condições, sentirá algo maior agindo em sua vida. Se passarmos a enxergar o outro como almas, estaremos automaticamente atraindo para nós aquilo que nele existe de melhor, o seu divino.

Muitas pessoas me perguntam, porque atraem para si situações e relacionamentos tumultuados e conflitantes. Sentem-se injustiçadas e passam a procurar justificativas no meio externo, atribuindo isso ao karma, à lei de causa e efeito, de atração, menos a elas mesmas. Seria muito mais simples se observassem esse panorama como uma conseqüência do todo, e assim, procurassem alternativas para que esse quadro se modificasse. Tudo que nos acontece, e todas as pessoas que permanecem em nossas vidas como obstáculos, sinalizam aquilo que ainda temos a aprender, e, não necessariamente “pagar”. Essa é uma visão antiquada e até cômoda.

Ao enxergarmos o erro no outro, estaremos atraindo isso para nós, porque nos identificamos de algum modo com ele. “Quando vejo o mal, absorvo o mal, mas, se olho o outro como alma, atrairei o divino que nele existe”.

Nossa mente racional interfere e complica esse entendimento porque está fora da realidade. Ela é cheia de padrões e crenças que acabam confundindo e tirando a capacidade que temos de discernir. A realidade não é essa que enxergamos aqui na matéria, ela é bem maior quando vista sob o ângulo do espírito. Assim sendo, focando a atenção na sombra do outro, identificamos o nosso lado obscuro.

O olhar equilibrado percebe a sombra, mas não discrimina ninguém por isso. Sabe que é a necessidade de aprendizado que está atuando e, que a sua real condição é a luz, mesmo que no momento ele esteja vivendo e experimentando uma situação inadequada. Assim, não condena, compreende e aceita.

Essa compreensão só alcança aquele que tem como meta seu relacionamento com o Eu Superior. Dá prioridade a ligação com seu espírito, e quando isso ocorre, o divino passa a ter o comando, e não o ego. A atuação do espírito afasta toda turbulência e passa a atrair relacionamentos e situações compatíveis.

Dessa maneira, não é mais necessário procurar alguém à sua altura, pois seu espírito se encarregará de fazer isso para você. É tão simples! Sozinho, ou mal acompanhado, fica aquele que não se encontrou, que não se conhece, e não assume primeiramente a sua relação com seu espírito.

VERA GODOY

por El Morya

Eu Superior ?

Eu Superior ?

Quebrando antigos padrões e  Resgatando seu potencial divino

No mundo globalizado de hoje, no qual imperam valores distorcidos, esmagadores interesses econômicos, falta de ética e uma infinidade de problemas reais que perturbam profunda e especialmente os cidadãos de mente aberta e bom senso, precisamos realizar com mais afinco e coragem, -imunes à infinitude de desgraças anunciadas pelas várias mídias que tentam nos massificar, controlar e derrubar-, nossa singular e preciosa participação aqui na Terra. Devemos, com lucidez e competência, mantendo nossa vibração elevada, nos transformar num ponto de Luz, num farol que espalha à nossa volta a palavra da verdade, absolutamente livre de condicionamentos, medo e culpa.

Cada vez mais conscientes e recebendo energias de busca direto da Fonte, orientados pelos Guias, balizados pelas irrevogáveis leis naturais, estaremos avançando na direção correta, encontrando na jornada outros seres em sintonia fina, com os quais trocar, de forma consciente ou inconsciente, as informações e as experiências que nos permitem desvendar e depurar o poderoso campo de força interior. O centro onde se encontram latentes todas as sementes e as possibilidades de criação que poderemos escolher e manifestar: novas atitudes, conceitos, eventos, reações, estados de espírito e mentais. É a conhecida força da co-criação que, posta em movimento, inexoravelmente transmuta tudo que estava parado, inerte, estagnado, dentro e fora de nós.

É necessário identificar o que, muitas vezes, nos atrasa na jornada, e isso fica cada vez mais claro durante as sessões de constelações familiares ou de imagens mentais: a perpetuação de padrões adversos adquiridos, como -por exemplo- a desconfiança em relação às mulheres por parte de homens, em função da rejeição que muitos sentiram por parte da própria mãe, fato recorrente que deixa profundas marcas na alma e que é automaticamente transmitido aos filhos.

Vale aqui sublinhar também o atraso que a religião tem nos provocado com seu distorcido doutrinamento, marcado por sentimento de culpa, de medo -decorrente de um Deus vingativo e distante-, impedindo o ser humano de viver com total dignidade, ciente de sua verdadeira natureza.

Estes acontecimentos e as falsas idéias disseminadas à exaustão desde a infância costumam gerar sentimentos de impotência, inadequação e negatividade. Devem ser finalmente colocadas em seu devido lugar (a lixeira), abrindo o espaço para contatarmos nossa divina realidade, o eterno ser cósmico que pode ser ouvido no silêncio interior, na imobilidade provisória das emoções, serenadas pela manifestação, pela percepção arrebatadora da nossa essência de Luz.

Devemos em primeiro lugar mudar nossos padrões mentais. O pensamento leva à intenção que conduz à ação. A intenção correta precisa se espalhar, impregnar as camadas mais profundas de nossa consciência, mas temos de atuar com inteligência e determinação, para finalmente deixar para trás a barreira do “Não consigo” em prol do novo reino que sugere: “Sim, eu posso”.

É preciso também, sempre é bom lembrar, pois muitos têm dificuldade em concordar, assumir plena responsabilidade pela nossa vida, por tudo que nos acontece. Inúmeros bloqueios derivam desta resistência, e as manifestações, os casos, ou “amostras”, na vida dessas pessoas são normalmente inequívocos, claros. A existência revela sempre, a quem é observador, quais são as crenças e as atitudes individuais subjacentes. É inevitável, é da lei.

Desativar este conceito tão nocivo, este mecanismo que não nos leva à parte alguma, requer grande energia e foco. A dissolução deste campo de força travado, bloqueado, levará a redirecionar enorme fluxo de energia em distintas obras positivas, compatíveis com as leis divinas.

Passos e ferramentas básicas a serem usados me desculpem por insistir tanto neste ponto, são a meditação, a oração e o perdão. É algo muito simples, prático e permite remodelar nossa mente. E tudo é interligado: o consciente e o inconsciente começam a conviver cada vez mais serenamente, deixando mais freqüente e confortante a passagem entre as duas realidades. Posso começar com uma oração, passar para um pedido de perdão ou uma afirmação, um mantra repetido como: “um, um, um, somos todos um”, e de repente me encontrar onde os cinco sentidos não atuam, na profundidade do meu ser, aquela parte sábia, que sente estar permanentemente conectada, pertencer ao “Todo que está em tudo”, como nos diz Wagner Borges.

As duas vozes cada vez mais próximas, o consciente e o inconsciente, os dois aspectos de nossa mente, devem ser finalmente postos face a face e será a parte consciente a tomar a decisão final em cada questão, como o sábio soberano que, após consultar a sagrada essência, escolherá o que deve ser feito de acordo somente com a lei do amor.

Assim procedendo, aos poucos abandonaremos definitivamente a dúvida, a autodestrutividade, a baixa auto-estima, a insegurança e os medos que impediam a passagem da Luz, a manifestação divina em nós. Desistir de exercer nosso poder inato será coisa do passado, a divina presença será companhia permanente, acompanhada da bem-aventurança, da fé verdadeira, de anseios de amor, de honestidade e de felicidade. Sim, se fomos capazes de conviver com os aspectos negativos da dor e da culpa, suportando-os durante anos a fio, poderemos tranquilamente conviver com tantos bons sentimentos!

Nada mais poderá ofuscar a Luz emanada da Fonte; uma nova força vital, desta vez apontando pra cima e pra frente, trará realização crescente, sentido à vida, alegria, paz e amor.

Não se trata aqui de utopia ou de algo abstrato, distante, um simples pe nsamento positivo. São atitudes concretas e práticas para serem incorporadas no dia-a-dia. Não mais seremos subordinados aos desejos dos outros, mas manifestaremos somente nosso ser sagrado, o divino. Teremos, portanto, somente relacionamentos verdadeiros, não de dependência. Este é o nosso destino final. Cabe a cada um escolher quando torná-lo real.

Que tal começar a reconhecer a manifestação dessa sublime presença dentro de nós?

Sou grato aos Guias por sua sabedoria, ao Rodolfo, Lidiane, Sandra e Teresa pelo apoio decisivo que me é dado.

Somos um só! Eu sou o outro Você

Sergio – STUM

Autoconhecimento

Autoconhecimento

Conhece-te a ti mesmo

“Que a morte não me encontre um dia, solitário e sem ter feito o que  eu queria”.  O padre Fabio de Melo foi muito feliz ao inserir essa estrofe em uma de suas belas músicas. Acabo de ver esse sábio homem ser entrevistado na TV e falando de alguns temas e entre os quais estava a dor. Sem qualquer julgamento apenas esperei o término do colóquio, e sem questionar minha alma, aceitei a imagem que chegava.

O homem passa boa parte da vida em busca de conhecimento,  vendo no sentido bem amplo esse conhecimento começa em casa, passa pela escola, por uma religião, vai para sua atividade profissional, alcança a vaidade e todos os nossos vícios e por ai vai, mas o conhecimento mais importante para a nossa vida fica relegado e esquecido, o autoconhecimento. Sim, esquecido, pois em um dado momento você olha do seu lado e se dá conta que todo esse saber não foi suficiente e pior, percebe que tantos outros também chegaram ao mesmo lugar, são iguais a você, você passou tanto tempo e não passou da média geral. Parafraseando outro filósofo você se dá conta que sabe mais do que deve e menos do que deveria saber.

Escutei certa vez de um místico algo que me fez refletir bastante, “a educação humana é feita para a média geral e nunca passará disso, pois uma mudança de nível só se dará em um nível superior”.

Em Luz no Caminho, Mabel Collins ensina: “Observa intensamente toda a vida que te rodeia. Aprende a olhar inteligentemente os corações dos homens. Observa com muita seriedade o teu próprio coração. Estuda os corações dos homens a fim de que possas conhecer este mundo em que vives e do qual desejas fazer parte“.

Parece até simples, mas infelizmente não o é, desde a filosofia de Sócrates, passando pelas escolas iniciáticas e filosóficas, sem falar nas religiões até os dias de hoje com o próprio Fabio de Melo, milhares de autores já se debruçaram sobre esse tema, que se de uma lado é fascinante de outro é  misterioso. Agostinho de Hipona escreveu “apenas aquilo que é decidido de dentro para fora é autêntico e pode nos libertar”, sendo assim a posse da verdade consiste em uma operação não apenas vital, mas pessoal, em que o conhecimento permitirá ao ser, relembrar a verdade adormecida em sua alma. Nessa verdade surge uma consciência diferente, na qual não há separação entre o “eu” e o outro.

Daí advém não o conhecimento, mas a sabedoria. Ela é diferente do conhecimento em todos os aspectos. Conhecimento, no sentido usual do termo, é conhecimento de fatos. É apenas acumulação de informações e não exige que a ação esteja de acordo com os fatos ou com a informação conhecida.

A sabedoria tem características totalmente diferentes, pois não pode existir sem que se expresse na qualidade dos relacionamentos e das ações. Por isso, a sabedoria é sempre prática. Onde quer que haja uma divergência entre pensamento e ação, teoria e prática, haverá ausência de sabedoria.

Isso seria o mesmo que alguns estudiosos do Zen-Budismo nos ensinam, tudo o que está fora diz ao individuo que ele não é nada, ao passo que tudo o que está dentro o persuade, você é tudo.

Autoconhecimento e Vocação

O conhecimento do ser traz um sentimento sem igual, mas isso nos dias de hoje é para poucos, pois apesar de estar disponível a todos, será um presente apenas para aqueles que ousarem olhar profundamente para o mais íntimo recesso do próprio ser, nesse estado ele é senhor de si, onde quer que se encontre, procede com fidelidade a si mesmo. Esse ser, D.T.Suzuki chamou de “artista da vida”. Apesar de estranho o termo, o autor nos presenteia com mais pérolas sobre esse “artista da vida”. Para ele todos nós somos, nascemos artistas da vida, e por ignorá-lo, a maioria deixa de sê-lo, e o resultado é que fazemos uma embrulhada das nossas existências, perguntando, “Qual é o significado da vida? Para onde vamos? Seriam todos neuróticos por causa disso? Seria mais prudente cada um tirar a sua própria conclusão. Voltando ao Zen ele nos ensina que todos nos nascemos artistas criativos da vida e que nos basta compreender esse fato e essa verdade para ficarmos curados da neurose, da psicose e de grande parte das enfermidades que nos aflige. Espiritualmente falando podemos dizer que quando nós vivemos algo diferente daquilo que é a vontade do nosso “eu superior”, quando desviamos desse caminhar, o nosso EU tende a se afastar dos corpos, não completamente, mas o quanto pode, começando então a apresentar estados de angustia e ansiedade e conseqüentemente os estados depressivos tão comuns nos dias de hoje, falaremos mais detalhadamente sobre essa questão e algo que nos interessa bastante, a vocação, em outros artigos.

Se de um lado o artista precisa usar um instrumento para expressar e demonstrar a sua faculdade criadora, o artista da vida tem todo o material, todos os instrumentos, toda a habilidade técnica que ele precisa está com ele desde o instante do seu nascimento, ou melhor, estão no próprio ser, antes mesmo da concepção.

Para uma pessoa assim, a vida reflete todas as imagens que ela cria, tirando-as da sua fonte inesgotável do inconsciente, cada um de seus atos exprime a originalidade do criador, não existe nela qualquer convencionalismo, conformidade ou motivação que o iniba. Esse ser vive como bem entende e seu comportamento é como o vento. O seu eu não é limitado, restrito nem mesmo egocêntrico, essa prisão ficou para traz, pois o seu eu tocou a fonte das possibilidades infinitas.

Na Teosofia R.Burnier ensina nessa mesma linha “A vida é extremamente criativa, e funciona renovando-se de modo inimaginável e surpreendente em todos os lugares onde está presente. Seu modo de crescer ou desenvolver-se jamais pode ser previsto por uma mente pessoal, pois a força criativa não pode ser compreendida dentro dos limites das atividades mecânicas do pensamento“.

Falando assim fica fácil, até que fica mesmo, porém a realidade para alcançar tamanho estado de solitude, requer muito trabalho, dedicação e acima de tudo   comprometimento, principalmente com a verdade, essa última como virtude.

Autoconhecimento e Virtude

A virtude aqui é essencial, pois o mundo de hoje a escondeu, para não dizer a renegou, aqui podemos nos lembrar dela em Spinoza: “Por virtude e poder entendo a mesma coisa, isto é, a virtude, enquanto se refere ao homem é a própria essência ou a natureza do homem, enquanto ele tem o poder de fazer certas coisas que se podem conhecer apenas pelas leis de sua natureza”.

A virtude é parte de nossa essência desde Aristóteles como sendo uma disposição adquirida de fazer o bem, para mim ela é o próprio bem, em espírito e em verdade, portanto quer conhecer-se, comece pela virtude, sem virtude não é possível avançar neste caminho. Pior ainda não são as dificuldades do caminho, mas ter que retornar dele sem sequer ter saído do lugar, pois a ausência da virtude é a chave mais rápida para a ilusão de que se avança sem evoluir, de que se conhece sem ter consciência.

A nossa existência é baseada na razão que hoje não consegue explicar tudo, basta olharmos ao nosso redor, a impotência desta em explicar os paradigmas da atual sociedade são notórios, além disso, a corrupção da vida na razão de uma existência desviada afastou ainda mais o ser humano da sua essência.

O homem tem atribuído, desde há muito, a causa do mal e do sofrimento a circunstâncias externas. Há séculos as pessoas têm tentado modificar sistemas, teorias, políticas e um sem número de coisas, exceto elas mesmas. Pouquíssimos são os que admitem que os problemas do mundo não possam ser solucionados mudando o curso da história e a organização da sociedade, a solução está nos criadores do problema, ou seja, no próprio homem.

Só o indivíduo que se preparou através do estudo profundo, que inclui a observação da Natureza externa e da natureza humana, é capaz de aprender a servir no sentido verdadeiro, como o próprio imperativo categórico de “ser bom” de Kant, “Age de tal maneira que o motivo que o levou a agir possa ser convertido em lei universal”.

Assim, o autoconhecimento é tanto negação como descoberta, e tanto renúncia como realização. É a negação do apego e da ilusão, e a descoberta da natureza verdadeira e dos poderes da vida interior. Esse conteúdo, a memória acumulada, é o EU que, por sua vez, não é uma entidade independente do conteúdo acumulado a mente precisa estar completamente vazia para receber; mas a ânsia de se esvaziar para receber é um obstáculo profundamente arraigado, e isto também precisa ser compreendido como um todo, não em qualquer nível específico.

Finalizo então com as palavras de Pascal e podendo também ser lido em Agostinho, Kierkegaard, Goethe, Krisnamurti, Nélida Piñon, entre muitos outros, cada qual da sua maneira é claro “Ninguém encontrará a Deus se não encontrar a si mesmo e ninguém encontrará a si mesmo se não encontrar a Deus”, já que o real conhecimento Não é um estado mental e sim um estado espiritual que implica plena união entre o conhecedor e o conhecido.

Aos poucos falaremos um pouco sobre os diversos caminhos que estão a nosso dispor nessa busca e esse artigo é o primeiro desse blog, que humildemente  falarei sobre os caminhos do autoconhecimento, tomando como base minhas leituras e minha vivência pessoal e espiritual, pelos caminhos que enveredei nos últimos anos.

Nesse blog contarei também com a ilustre colaboração de minha esposa, uma adorável amante das letras.

Hebhert Oliveira – Raizeiro

Autoconhecimento

  • Assim como sei que sou, sei também que me conheço.

Agostinho de Hipona

  • Vivenciamos a nos mesmos, nossos pensamentos e sentimentos como algo separado do resto. Uma espécie de ilusão de ótica da consciência

Albert Einstein

krishnamurti

Autoconhecimento

O pensar correto não é para ser descoberto através dos livros, através do assistir a umas poucas palestras, ou por escutar meramente algumas idéias de pessoas sobre o que é o pensar correto. O pensar correto é para ser descoberto por nós mesmos através de nós mesmos. O pensar correto vem com o autoconhecimento. Sem autoconhecimento não existe pensar correto.

Sem conhecer-se a si mesmo, o que você pensa e o que sente não pode ser verdadeiro. A raiz de todo entendimento encontra-se no entendimento de si mesmo. Se você pode descobrir quais são as causas de seu pensamento-sentimento, e a partir desta descoberta, saber como pensar-sentir, então existe o começo do entendimento. Sem conhecer-se a si mesmo, a acumulação de idéias, a aceitação de crenças e teorias não têm base. Sem conhecer-se a si mesmo, você sempre será pego na incerteza, dependendo do humor, das circunstâncias. Sem entender-se a si mesmo completamente, você não pode pensar corretamente. Com certeza isto é óbvio. Se eu não sei quais são os meus motivos, minhas intenções, meu “background” (fundo), meus pensamentos-sentimentos particulares, como é que posso concordar ou discordar de outra pessoa? Como posso avaliar ou estabelecer minha relação com outra pessoa? Como posso descobrir qualquer coisa da vida se não conheço a mim mesmo? E conhecer a mim mesmo é uma tarefa enorme, que requer observação constante, uma vigilância meditativa.

Esta é nossa primeira tarefa, mesmo antes do problema da guerra e da paz, dos conflitos econômicos e sociais, da morte e da imortalidade. Estas questões vão surgir, elas hão de surgir, mas na descoberta de nós mesmos, no entendimento de nós mesmos, estas questões serão respondidas corretamente. Assim, aqueles que são realmente sérios nestas questões devem começar por eles mesmos, a fim de entender o mundo do qual são uma parte. Sem entender-se a si mesmo você não pode entender o todo. O autoconhecimento é o começo da sabedoria. É cultivado pela busca individual de si mesmo. Não estou colocando o indivíduo em oposição à massa (ao coletivo). Eles não são antíteses. Você, o indivíduo, é a massa, é o resultado da massa. Se entrar dentro disto profundamente, você irá descobrir por si mesmo. que você é tanto o coletivo quanto o individual. É como um córrego que está constantemente fluindo, deixando pequenos redemoinhos, e a estes redemoinhos chamamos de individualidade, mas eles são o resultado desse constante fluxo de água. Seus pensamentos-sentimentos, aquelas atividades mentais-emocionais, não são o resultado do passado, do que chamamos a multiplicidade?

Você não tem pensamentos-sentimentos similares aos do seu vizinho? Assim, quando falo de indivíduo, não o estou colocando em oposição à massa, ao coletivo. Ao contrário, quero remover este antagonismo. Este antagonismo que coloca em oposição a massa e você, indivíduo, cria confusão e conflito, crueldade e miséria. Mas se pudermos entender como o indivíduo, você, é parte do todo, não apenas misticamente, mas realmente, então nos libertaremos de modo feliz e espontâneo, da maior parte do desejo de competir, de ter sucesso, de iludir, de oprimir, de ser cruel, ou de se tomar um seguidor ou um líder. Então veremos o problema da existência de modo diferente. E é importante entender isto profundamente.

Enquanto nos virmos como indivíduos, separados do todo, competindo, obstruindo, em oposição, sacrificando o coletivo pelo particular, ou sacrificando o particular pelo coletivo, todos aqueles problemas que surgem deste conflitante antagonismo não terão solução feliz e duradoura, pois são o resultado do pensar-sentir incorreto. Agora, quando falo sobre o indivíduo, não o estou colocando em oposição à massa. O que eu sou? Sou um resultado – sou o resultado do passado, de inúmeras camadas do passado, de uma série de causas-efeitos. E como posso estar em oposição ao todo, ao passado, quando sou o resultado daquilo tudo? Se eu, que sou a massa (o coletivo), se não entender a mim mesmo, não apenas entender o que está fora da minha pele, objetivamente, mas subjetivamente, dentro da pele, como posso entender outra pessoa, o mundo? Entender a si mesmo requer desapego amável e tolerante.

Se você não entender a si mesmo, não entenderá nada mais. Pode ter grandes ideais, crenças e fórmulas, mas elas não terão realidade. Serão enganos. Assim, você deve conhecer-se a si mesmo para entender o presente – e através do presente, o passado. Do presente conhecido, as camadas escondidas do passado são descobertas, e esta descoberta é libertadora e criativa. O autoconhecimento requer um estudo objetivo, amável, desapaixonado de nós próprios – nós próprios sendo o organismo como um todo, nosso corpo, nossos sentimentos, nossos pensamentos. Eles não estão separados, mas interligados. É somente quando entendemos o organismo como um todo que podemos ir além – e podemos descobrir coisas mais adiante, maiores, mais vastas.

Mas sem este entendimento primário, sem colocar o alicerce correto para o pensar correto, não podemos prosseguir para alturas maiores. Torna-se essencial produzir em cada um de nós a capacidade de descobrir o que é verdadeiro, pois o que é descoberto é libertador, criativo. Pois o que é descoberto é verdadeiro. Ou seja, se meramente nos conformarmos a um padrão do que deveríamos ser, ou cedermos a um anseio, produziremos certos resultados conflitantes, confusos. Mas no processo do nosso estudo de nós mesmos, estamos numa viagem de autodescoberta, o que traz alegria.

Existe uma certeza no pensar-sentir negativo em vez do pensar-sentir positivo. De uma maneira positiva supomos o que somos, ou cultivamos positivamente nossas idéias em relação a outras pessoas, ou em relação a nossas próprias formulações. E, portanto, dependemos de autoridade, de circunstâncias, esperando com isto estabelecer uma série de idéias e ações positivas. Ao passo que se você examina, verá que existe concordância na negação; existe certeza no pensar negativo, que é a mais alta forma de pensar. Quando você descobrir a negação verdadeira e a concordância na negação, então poderá construir mais adiante no positivo. A descoberta que reside no autoconhecimento é árdua, pois o começo e o fim estão em nós.

Buscar felicidade, amor, esperança fora de nós, leva-nos à ilusão, ao sofrimento; encontrar felicidade, paz, alegria dentro (de nós) requer autoconhecimento. Somos escravos das pressões imediatas e exigências do mundo, e somos desviados por tudo isso e dissipamos nossas energias em tudo isso, e assim temos pouco tempo para estudar a nós mesmos. Estarmos profundamente cientes de nossos motivos, de nossos desejos de alcançar, de vir-a-ser, exige constante atenção interna. Sem o entendimento de nós mesmos, mecanismos superficiais de reforma social e econômica, mesmo que necessários e benéficos, não irão produzir unidade no mundo, mas somente maior confusão e miséria. Muitos de nós pensamos que a reforma econômica de uma ou outra forma vai trazer paz ao mundo; ou que a reforma social, ou uma religião especializada conquistando todas as outras vai trazer felicidade ao homem.

Acredito que haja algo como oitocentas ou mais seitas religiosas neste país, cada uma competindo, fazendo proselitismo. Vocês pensam que uma religião competitiva vai trazer paz, unidade e felicidade à humanidade? Pensam que qualquer religião especializada seja o Hinduísmo, o Budismo ou o Cristianismo, vai trazer paz? Ou devemos colocar de lado todas as religiões especializadas e descobrir a realidade por nós mesmos? Quando vemos o mundo explodido por bombas e sentimos os horrores que estão acontecendo nele; quando o mundo está fragmentado por religiões, nacionalidades, raças e ideologias separadas, qual é a resposta a tudo isso? Não podemos apenas continuar vivendo uma vida curta e morrendo – e esperar que algum bem, advenha disso.

Nós não podemos deixar isso para os outros – trazer felicidade e paz à humanidade, pois a humanidade é nós mesmos, cada um de nós. Aonde se encontra a solução, senão em nós mesmos? Descobrir a resposta real requer profundo pensamento-sentimento e poucos de nós estão dispostos a resolver essa miséria. Se cada um de nós considerar esse problema como jorrando de dentro – e não ser meramente conduzido nessa confusão e miséria pavorosa, então iremos encontrar uma resposta simples e direta. No estudo e, assim, no entendimento de nós mesmos, virá claridade e ordem. E só pode haver claridade no autoconhecimento, que nutre o pensar correto.

O pensar correto vem antes da ação correta. Se nos tornarmos conscientes de nós mesmos e assim cultivarmos o autoconhecimento de onde jorra o pensar correto, então criaremos um espelho em nós que refletirá, sem distorções, todos os nossos pensamentos-sentimentos. Estar assim autoconscientes é extremamente difícil, já que nossas mente estão acostumadas a divagar e a estar distraídas.

Suas divagações, suas distorções são de seu próprio interesse, suas próprias criações. No entendimento disto – e não meramente colocando isto de lado – vem o autoconhecimento e o pensar correto. É apenas por inclusão e não por exclusão, não por aprovação ou condenação ou comparação, que vem o entendimento.

J. Krishnamurti em palestra realizada em Ojai, Califórnia, EUA, 1944

hiponaSanto Agostinho e o autoconhecimento


Toda a trajetória humana consiste em uma busca progressiva de respostas, na qual o homem procura superar a si mesmo em meio aos conflitos existenciais em direção à almejada verdade libertadora. Efetivamente, importa em um primeiro momento questionar: como se chegar a essa verdade? E ainda, o que é a verdade?

Ao se questionar qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal, Santo Agostinho responde em O Livro dos Espíritos:  Um sábio da Antigüidade vos disse: ”Conhece-te a ti mesmo”.2 Tal aforismo, já inscrito no oráculo de Delfos, nos leva inicialmente a entender que a libertação e alegria do Espírito não consistem em um estado, mas em um processo de busca da verdade em si mesmo, o qual define-se, consoante a pedagogia socrática, em dois momentos: a ironia e a maiêutica.

Através da ironia, ou arte da interrogação, Sócrates levava o discípulo a afastar toda idéia falsa ou ilusão que tivesse do mundo e sobre si mesmo, induzindo-o a chegar à verdade por si mesmo. Tal procedimento visa inicialmente pôr a descoberto a vaidade, desmascarar a impostura e seguir a verdade. Ao atacar os cânones oficiais, a ironia socrática parece ter uma feição negativa e revolucionária, no entanto, esse primeiro momento do processo de autoconhecimento é autêntico, uma vez que visa à purificação da alma por via da expulsão de idéias obscuras e ilusórias que esta possui sobre si e que na verdade distanciam a alma de si mesma.

A melhor maneira de promover o auto-aperfeiçoamento, afirma Sócrates, é por meio do auto-exame, e é apenas através deste reencontro consigo mesmo que se torna possível o renascer da própria consciência, a parturição,  ou seja, o trazer à luz  as próprias idéias. Apenas aquilo que é decidido de dentro para fora é autêntico e pode nos libertar. Efetivamente, a posse da verdade consiste em uma operação não apenas vital, mas pessoal, em que a forma interrogativa ou dialética permite ao discípulo relembrar a verdade adormecida em sua alma.

É assim que Agostinho de Hipona nos descreve o itinerário dessa busca de autoconhecimento diante de tantos conflitos existenciais que afligiam sua alma quando, dilacerado pelas vaidades e paixões, desperta para as verdades cristãs. Em Tagaste, entrega-se à vida monástica e, nessa ocasião, escreve Confissões, obra na qual dedica-se a perscrutar o abismo da consciência humana, mas o faz também em sua própria consciência.Agostinho inicia assim essa trajetória inicialmente conflitante buscando estabelecer a distinção entre o bem e o mal, para então inverter seu olhar da realidade mundana à interioridade, em uma conversão de valores. Da mesma forma, Allan Kardec questiona aos Espíritos como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral, ao que respondem: —  dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher3.

Percebe-se deste modo, no itinerário do filósofo intelectual ao  religioso, a importância do raciocínio analítico que necessita distinguir o bem e o mal, para então, através do livre-arbírtro, iniciar pela via ascendente da verdade. Por verdade, da mesma forma que a Filosofia Espírita, Agostinho afirma o bem como a única realidade positiva, na medida em que o mal consiste em uma privação, decorrente do mau uso da liberdade: procurei o que é o mal, e verifiquei que não é substância, mas perversidade de uma vontade que se afasta da substância suprema — de Vós, meu Deus — na direção das coisas inferiores4.

Se Sócrates nos trouxe, pela primeira vez na história do pensamento, um método de conhecimento que daria origem à autoridade da ciência e a autenticidade dos valores morais, já Agostinho que, sem dúvida recomendou esse método, foi quem na verdade explorou essa busca de interioridade e a exemplificou em si mesmo, pois sempre buscou mergulhar dentro de si e conscientizar-se de seus erros e defeitos, conforme expõe de forma autêntica em

Confissões:

Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupções de minha alma, não porque as ame, ao contrário, para te amar, ó meu Deus. É por amor do teu amor que retorno ao passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros.5

Efetivamente, após tantos conflitos interiores, o bispo de Hipona busca esse auto-exame de seu passado, busca essa interrogação ou ironia  socrática, questionando a si mesmo, não por alguma motivação exterior a si, mas antes como uma forma de amar e exaltar a Deus. Como amar a Deus plenamente sem uma libertação da própria consciência que se julga? Eis aqui a moral autônoma que nos ensina a pedagogia espírita, na medida em que o Espírito se autolegisla, visando uma libertação da sua própria consciência. Daí o papel decisivo da memória no processo de autoconhecimento, pois é na memória que eu me encontro comigo mesmo, escreve Agostinho, que me lembro de mim mesmo, as coisas que fiz, a época e do lugar em que as fiz, do que sentia ao fazê-las6.

O despertar para o amor impele Agostinho à sinceridade consigo próprio e para com Deus, pois à medida que o ser eleva-se moralmente, não mais se satisfaz em enganar a si mesmo. Por isso, quando resignados e elevados, a visão do passado constrangedor pede por manifestar-se como uma forma de libertar-se a si mesmo. A consciência autônoma só se liberta quando depara consigo mesma e se aceita. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará7, afirma o amoroso mestre. O amor a Deus é impossível sem a autenticidade da alma para consigo mesma. Não basta à consciência a recompensa exterior farisaica. Recordar primeiramente consiste em apresentar-se à deus a8 do passado, segundo alegoria platônica, para então viver um presente consciente em função do futuro libertador.

A recordação é amarga, afirma Agostinho, mas espero sentir tua doçura, doçura que não engana, feliz e segura, e quero recompor minha unidade depois dos dilaceramentos interiores que sofri quando me perdi em tantas bagatelas, ao afastar-me de tua Unidade.9

Ao infringir o senso moral, à lei imanente ao Espírito, é como se nos distanciássemos da verdade, é como se dilacerássemos, pela vaidade, torpezas e conflitos interiores, a unidade do amor que caracteriza a nossa essência. E esse rompimento com a unidade desvia o Espírito de sua natureza substancial, dispersando-o na contemplação exaustiva do mundo sensível.  É assim que Jesus já exaltara essa unidade, antes de partir para seus

derradeiros momentos, quando ora ao Pai para que todos sejam Um com ele. A empatia feliz, a doce comunhão em espírito, com o Pai e com o próximo, eis o sentido definitivo da existência. Eis a oração do amoroso mestre pela união de todos os homens de fé em Deus:

Para que todos sejam um, assim como tu, Pai estás em mim e eu em ti para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me destes, para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim.10

Esta consciência da unidade só pode se dar na plenitude do Espírito que ama e que, portanto transcende a dilaceração do homem velho, segundo palavras de apóstolo Paulo, alienado de si pelas coisas do mundo. Nesse contato com o espírito imanente que vivifica, o ser é arrebatado por uma necessidade irresistível de comungar elevados sentimentos com Deus e com o outro. A simpatia dos Espíritos entre si é possível pelo fato de todos se identificarem em natureza, porquanto possuem a mesma origem: o Ser único, uno e universal. A unidade mantém a força de atração, e nessa atração revela-se a lei do amor, sublime imperativo, que quando vivenciado plenamente há de substituir a personalidade pela fusão dos seres.11 Amar a Deus e ao próximo é alegrar-se pela vivência da unidade em espírito.  Aquele que se une ao Senhor torna-se um só espírito com ele.1 2

Plotino, cujo pensamento muito influenciou Agostinho, já exaltara a missão própria da alma: restabelecer a unidade original das coisas, reconduzindo-as todas ao Um. As etapas desse processo de retorno consistem na ascese, na qual, em um primeiro momento a alma liberta-se dos sentidos pelo exercício da virtude.

Em um segundo momento a contemplação, que consiste no conhecimento do Um mediante a filosofia. E por último o êxtase, onde a alma supera o conhecimento filosófico, no ato de contemplar o Um ela é tomada de uma alegria inefável.

Se considerarmos ainda o ponto de vista da religiosidade espírita, essa unidade, porém não é estática, nem meramente quantitativa, mas varia segundo o grau evolutivo, qualitativo do Espírito; quanto maior o grau de pureza, quanto mais expressiva a moralidade, maior a coesão entre os indivíduos. A visão meramente contemplativa não basta para a identificação com o Ser, pois o Espírito consiste em uma natureza dinâmica, criativa, e nesse contato autêntico com a unidade o indivíduo se vê impelido a exteriorizá-la, a gerar, a criar, a doar, pela força de todas as forças, a força de coesão do amor. Eis a caridade então, como forma desta unidade manifestar-se na pluralidade de seres. Desta forma é na comunhão interior com os demais seres que nós, Espíritos particulares revelamos, comungamos na unidade do espírito universal, mas como consciências ativas e perenes.

Com efeito, o célebre Conhece-te a ti mesmo não consiste apenas na consciência de erros, defeitos e limitações; conhece-te a ti mesmo no que possuis de infinito, ou de  potencialidades da verdade divinal que te habita. Eis a maiêutica. O trazer à luz a interioridade, não apenas como um meio, mas o fim último do autoconhecimento.

Adotando a concepção platônica, retomada por Plotino, Agostinho considera as sensações  como insuficientes, por nos revelarem o particular e o contingente, o que não

pode ser objeto do verdadeiro conhecimento, ao passo que a alma encontra em si mesma o universal e o necessário, o puramente inteligível. Se não provém das sensações, como explicar a presença na alma de tais verdades, imutáveis e eternas? Sem dúvida,

também para o bispo de Hipona, assim como para a Filosofia Espírita, pode-se chegar a Deus mediante os índices cosmológicos, por exemplo, através da ordem do Universo e da contingência das coisas: a h armonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo um poder inteligente.13 Mas Agostinho, assim como a Revelação Espírita, encontra indícios muito mais sugestivos da verdade no homem do que no mundo. Ele não procura a solução dos problemas filosóficos na realidade externa, como o fizera Aristóteles e toda a filosofia grega, mas no exame da própria alma.

O que dá originalidade e unidade à sua solução é a perspectiva na qual ele considera os problemas existenciais, perspectiva que é essencialmente interior. Seu princípio inspirador é o seguinte: Noli foras ire, in teisum redi, in interiore homine habitat veritas 14 (não saias de ti, volta-te para ti mesmo, a  verdade habita no homem interior). E o que é essa verdade para o autor de Confissões?

A verdade para Agostinho, não provém do mundo exterior; enquanto imutável e eterna, é o próprio Deus — Cumpre exaltar aqui a eternidade e imutabilidade como sendo, do mesmo modo, atributos da divindade para a Filosofia Espírita15. Ao mesmo tempo imanente e transcendente ao homem, Deus só pode ser encontrado no íntimo de cada ser, ao longo de um itinerário, como se vê nas Confissões, que conduz do exterior ao interior, e do interior ao superior. Inefável, indizível, Deus é aquele que é (ego sum qui sum), a essência ou substância, o ser que é sempre e plenamente aquilo que é. É desta forma que a leitura dos platônicos leva Agostinho a buscar no próprio íntimo a verdade

transcendental:

Instigado por esses escritos a retornar a mim mesmo, entrei no íntimo de meu coração sob tua guia, e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio.(SL 29,11). Entrei e com os olhos da alma, acima destes meus olhos e acima de minha própria inteligência, vi uma luz imutável (…). Era como se brilhasse muito mais clara e tudo abrangesse com sua grandeza. Não era uma luz como esta, mas totalmente diferente das luzes desta terra. Também não estava acima de minha mente como o óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, mas acima de mim porque ela me fez, e eu abaixo porque fui feito por ela.

Quem conhece a verdade conhece esta luz, e quem a conhece, a eternidade. O amor a conhece. Ó eterna verdade, verdadeira caridade e querida eternidade!16

Depreende-se de tal evocação que para Agostinho o conhecimento das verdades eternas é obtido por meio da ilumin ação divina e não por meio da reminiscência. Como não admite a preexistência da alma não lhe é possível explicar o conhecimento das verdades eternas senão pela doutrina da iluminação.

Sem a iluminação, é possível conhecer a lei, mas é impossível praticá-la ou cumpri-la. A graça, porém, não elimina a liberdade, mas a restaura em sua eficácia, tornando-a capaz de fazer o bem e evitar o mal.

A espiritualidade da alma consiste na busca consciente da substância divina em si mesmo, em transcender os sentidos materiais em busca de um sentido espiritual: a visão interior; a luz a que se refere Agostinho consiste na graça divinal, e que incide na própria alegria do sentimento moral, do amor.

Nesta visão o Espírito confunde-se com a própria luz geradora, conforme alegoria platônica, da qual torna-se a própria manifestação; não se sabe mais se é o sol exterior à caverna ou se é o si mesmo, se sou Eu ou a essência divinal: Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? 17. Nesta unidade identificam-se ainda os Espíritos superiores, sob cuja égide vivemos: já não sou eu, mas o Cristo que habita em mim18, afirma ainda Paulo.

Se para as várias religiões Deus é um ser transcendental, já a Doutrina Espírita exalta antes a imanência de Deus na criação, mensagem fundamental do cristianismo:  Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? 19. O espírito divino, enquanto verdade eterna e imutável, habita, desta forma no templo de interioridade de cada um. É possível sim chegar a essa verdade, mas por uma auto-iluminação, esforço e conquista interior. Cada Espírito é uma expressão, um modo de ser da presença divina.

Essa imanência revela-se para a consciência que transcende religiosamente, em forma de contentamento interior, pela consciência imediata da Presença interna. Daí a alegria interior dos Espíritos nobres, de perceber-se amando, de sentir-se como vivência do espírito divino, no qual somos e ex-istimos, fazemos parte e manifestamos.

Essa religiosidade libertadora, portanto, consiste em trazer à luz a verdade, conforme já afirmara o mestre da Antiguidade, temporariamente oculta, tornando-a visível ao Espírito, pela própria luminosidade interior. A espiritualidade da alma é, pois, confirmada pelo que ela conhece de si mesma.

Quando a alma conhece a si mesma, descobre não apenas seus defeitos, mas que é uma substância divinal individuada, e que enquanto tal está em íntima relação com a verdade. Vemos assim a trajetória de Agostinho, um homem que amou e sofreu, conheceu o tormento da dúvida e do remorso, que conheceu todas as situações limite que caracterizam a condição humana. Ao mesmo tempo revela-se no filósofo que escrevia com a alma ardente,  um religioso que venceu a si mesmo, um Espírito fervoroso e apaixonado, cujo testemunho nos é um exemplo que nos ilumina, que nos aquece interiormente. Eis assim as Confissões, obra sempre atual, e que fala não só da experiência gloriosa de Agostinho, mas de todos nós no itinerário do erro à verdade, da busca de si mesmo e de Deus.

Astrid Sayegh- Mestre e doutora em Filosofia  pela Universidade de São Paulo

1  — Galilée — Aspects de son vie et de son oeuvre — ob. Coletiva — P.U.F. p. 334

2  — KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 919

3  — KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 780-a

4  — Galilée — Aspects de sa vie e de son oeuvre — ob. coletiva —P.U.F. p.114

5  — AGOSTINHO, Santo. Confissões p.43 (O grifo é nosso)

6  —  FAURE, Paul — La Rennaissance — ps. 109 e 110

7  — Jo 8:32

8  — PLATÂO, O Mito de Herr, em A República

9  — AGOSTINHO, Santo. Confissões. P. 43 (O grifo é nosso)

10 — Jo, 17:21.

11 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cit. XI, 8.

12 I Cor. 6:17.

13  — KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 8

14 — De Vera religione, XXXIX, 72.

16 — AGOSTINHO, Santo. Confissões. P.175 (O grifo é nosso)

15 — KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 13

17  — Jo 14:10

18  — Gal 2:20

19  — I Cor.  3:16

flor+de+lótus

  • A lenda da Flor de Lótus e os quatro elementos da natureza

Os quatro elementos da natureza, terra, água, ar e fogo, constituem as quatro grandes portas do inconsciente humano.

Os elementos são a essência das forças existentes na natureza, forças estas que interagem entre si, regendo por meio de suas variadas combinações todos os fenômenos da vida, em escala tanto primária quanto complexa, portanto diretamente ligados ao processo de conhecimento interior.

Do mesmo modo, a linda flor de Lótus -símbolo da expansão espiritual- nasce da sabedoria desses quatro elementos, conforme uma das mais belas lendas que se conhece, não só representa, mas como é a própria representação do autoconhecimento.

Tal como a flor do lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo sua flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram – do mesmo modo a mente, nascida no corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância, e transforma o poder tenebroso da profundidade no puro néctar radiante da consciência Iluminada (bidhicitta), a incomparável jóia (mani) na flor de lótus (padma).

Assim, o arahant (santo) cresce além deste mundo e o ultrapassa. Apesar de suas raízes estarem na profundidade sombria deste mundo, sua cabeça está erguida na totalidade da luz. Ele é a síntese viva do mais profundo e do mais elevado, da escuridão e da luz, do material e do imaterial, das limitações da individualidade e da universalidade ilimitada, do formado e do sem forma, do Samsara e do Nirvana.

Se o impulso para a luz não estivesse adormecido na semente profundamente escondida na escuridão da terra, o lótus não poderia se voltar em direção à luz. Se o impulso para uma maior consciência e conhecimento não estivesse adormecido mesmo no estado da mais profunda ignorância, nem mesmo num estado de completa inconsciência um Iluminado nunca poderia se erguer da escuridão do Samsara.

A semente da Iluminação está sempre presente no mundo, e do mesmo modo como os Budas surgiram nos ciclos passados do mundo, também os Iluminados surgem no presente ciclo e poderão surgir em futuros ciclos, enquanto houver condições adequadas para vida orgânica e consciente.

A semente de Lótus pode ficar mais 5.000 anos sem água, somente esperando a condição ideal de umidade pra germinar.

A Lenda da Flor de Lotus

Certo dia, à margem de um tranqüilo lago solitário, encontraram-se quatro elementos irmãos:o fogo, o ar, a água e a terra.

– Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva – disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.

– É verdade – disse o ar – É um destino bem curioso o nosso. À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.

– Não te queixes – disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação. Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo, entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte. Eu faço o mesmo.

– Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar – disse a terra – pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço.

– Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos – tornou a dizer o fogo – com discussões supérfluas. É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.

Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo. Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído.

Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas.

Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem. Ah! como ele era ingrato. Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os. Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico. Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos

Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem.

Houve muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes. Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram:

– E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela?

– A idéia pareceu digna de experiência. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas – disse a terra – e alimentarei suas raízes.

– Eu porei as melhores linfas de meus seios – disse a água – e farei crescer sua haste.

– Eu porei minhas melhores brisas – disse o ar – e tonificarei a planta.

– Eu porei todo o rneu calor – disse o fogo – para dar às suas corolas as mais formosas cores.

Dito e feito. Os quatro irmãos começaram a sua obra. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana.

Foi fixada a data de 8 de maio – quando a Terra está sob a influência da Constelação de Taurus, símbolo do Poder Criador – para a comemoração que desde épocas remotas se tem perpetuado através das idades. Foi espalhada esta comemoração por todos os países do Ocidente, e, em 1948, o dia 8 de Maio se tomou também o “Dia da Paz”.

Curiosidades:

– É a flor símbolo da espiritualidade

– A semente de Lótus pode ficar mais 5.000 anos sem água, somente esperando a condição ideal de humidade pra

germinar.

– Ela nasce na lama e só se abre quando atinge a superfície, onde só então mostra suas luminosas e imaculadas pétalas,

que são autolimpantes, isto é, têm a propriedade de repelir microrganismos e poeiras.

– É a única planta que regula seu calor interno, mantendo-o por volta de 35º, a mesma temperatura do corpo humano.

– Seu botão tem a forma de um coração.

Hebhert Oliveira – Natureza Celestial

depressao

  • Crises do Despertar Espiritual

Recentemente o Sr. Ricardo Maffia, comunicador da rádio mundial,  esteve na sociedade teosófica proferindo uma palestra sobre as crises no caminho do discipulado.  A palestra foi muito interessante e forte, já que trata de um tema pouco falado e discutido, pois eventuais transtornos vivenciados pelas pessoas são normalmente tratados como sendo de origem externa. Nas escolas iniciáticas é muito comum ouvir e discutir esse tema, o Trigueirinho nas suas exposições sempre comenta esse esse assunto, bem como sua cura,  mas infelizmente é algo desconhecido para a grande parte das pessoas.

Os livros de  auto-ajuda e as soluções mágicas brotam mais do que os girassóis que nascem no quintal, fruto das sementes que o meu Agapone derruba pelas jardineiras, e tudo acaba como paliativo.

O psicanalista Jorge Forbes entre muitos outros autores,  tem falado a tempos ” livros de auto-ajuda só ajudam os próprios  autores, pois estes ganham com a venda”, já as soluções mágicas dispensam comentários, polêmicas a parte, a verdade é que os problemas da alma só podem ser enfrentados com um honesta e profunda viagem interior, já a forma como será sera feito essa viagem, fica a critério de cada um, mas  nada impede que esse passeio começe com um livro desses. Mas só começe.

As crises no caminho da senda foram bem vivenciados por mim e essa audição acabou me influenciando a iniciar esse blog, segue então os principais temas abordados pelo Ricardo na palestra, escrito posteriormente por ele próprio. A palestra ocorreu em Julho de 2009.

Toda pessoa que se interessa pelo esoterismo , entra para esse caminho pelas mais variadas razões ; em síntese a razão principal mesmo não estando na percepção direta da pessoa é a Busca pelo Significado de Sua Vida.

Nessa Busca , geralmente a pessoa entra em contato com cursos, associações espiritualistas , lê muitos livros . Todo conhecimento informal é necessário e importante . Nesse período que varia de tempo de pessoa para pessoa , o indivíduo vivencia várias fases como : Deslumbramento , Curiosidade , Fortalecimento , mas depois de um determinado período começam os questionamentos , ou seja , qual o melhor caminho , adicionando-se ao fato de que muitos objetivos que se queria alcançar nessa vida , não se alcançou e por conseqüência a dúvida se instala . Além disso , começam a ocorrer problemas na vida da pessoa , particularmente nas áreas mais frágeis da mesma.

Esses problemas podem atingir a vida afetiva , profissional , familiar . Muitas pessoas afirmam que suas vidas se transformaram em um deserto emocional e entram em uma crise existencial sem precedentes , levando-as até a perder a esperança no esoterismo.

Com aparentes vitórias , mas sem resultados concretos é gerado um stress que leva a pessoa a ter baixa de auto-estima , insônias , melancolia , sintomas esses que podem caracterizar Transtornos de Ansiedade como : Depressão , Transtorno de Pânico …etc.

Importante que se diga que quando se instalam esses Transtornos de Ansiedade é conveniente a pessoa iniciar um tratamento de forma Holística ou seja , um tratamento abrangente , iniciando-se por um médico para tratar com medicamentos específicos a provável Depressão e associando esse tratamento à Terapias Alternativas.

Importante também que o esotérico saiba que ele tem que ter uma mente flexível , e perceber que os remédios alopáticos quando prescritos por médicos competentes dão resultados e os remédios alopáticos , embora possuam alguns efeitos colaterais indesejáveis , porém transitórios atuam na fase aguda da crise no que tange ao corpo físico e as Terapias Alternativas abrangem os corpos sutis : Etérico ou Bioenergético , Astral ou Emocional e Mental.

De qualquer forma a pessoa capacitada ao diagnóstico é o médico e para quem não tem seguro saúde , é aconselhável procura o Ambulatório de Psiquiatria do Hospital da Clínicas , pois o atendimento é gratuito.

Agora o leitor poderá estar perguntando: Mas para que todo esse discurso?

Esoterismo significa também estudo interno . É o Caminho do Auto-conhecimento . A vida da pessoa comum está cheia de acontecimentos que ela própria não percebe e também não identifica seus talentos e possibilidades . Desta forma a pessoa comum passa por sofrimentos constantes e aprende geralmente através da dor e esse processo demanda tempo , muito tempo – vidas até.

O processo de Reencarnação tem por objetivo fazer que o ser humano passe por uma série de vidas e através das experiências , a pessoa vá descobrindo seus Dons de Alma  para que em um futuro distante ela possa colaborar conscientemente com o processo evolutivo da Humanidade , em outras palavras , estar na Senda Iniciática – No Caminho dos Boddhisatvas.

O Esoterismo ou Auto-conhecimento é um processo que pode ser conhecido também , de forma metafórica como O Chamado da Alma . A alma é o nosso Eu Superior , O Super-consciente da Psicologia Transpessoal , O Self chamado por Jung , O Cristo Interno , a Auto-realização de A. Maslow.

Quando se ingressa por esse Caminho , muitas das experiências que o ser humano iria vivenciar em vidas são convergidas para poucas vidas , ou seja , há um aceleramento evolutivo e esse aceleramento leva a pessoa a passar por processos importantes , a princípio difíceis pois é fundamental o ser humano se conhecer e esse caminho o levará a ter a percepção de seus pontos frágeis e seus Dons para podê-los aplicar conscientemente em sua própria vida e na melhora da Humanidade.

Podemos usar como símile a Universidade. O aluno ingressa através de um processo seletivo. Depois percorre toda a grade de estudos com provas , trabalhos e no final , a satisfação de estar formado , capacitado para atuar na profissão escolhida . Um ritmo desgastante a princípio, mas compensador.

No esoterismo se dá o mesmo. Processo de provas , socialização ou seja , o despertar da consciência intra-pessoal que é sentir a reais necessidades e possibilidades de si mesmo realizando-as de fato e concretamente em sua vida e a expansão consciência inter-pessoal que é perceber e se capacitar para auxiliar o próximo em suas necessidades e aperfeiçoamento. Isso significa a manifestação do Eu Superior que é o próprio indivíduo manifestando suas capacidades superiores. Uma vez atingindo esse estágio que é dinâmico , serão acionadas sincronicidades ou coincidências significativas (Jung) , que trarão respostas e soluções para seus desafios.

Estamos no século XXI e existem informações importantes , disponibilizadas pela Mídia.  A Rádio Mundial , por exemplo é uma Ferramenta Real que leva essas informações para o público e principalmente para os que estão passando por esse processo de Crise do Despertar.

Imaginem as pessoas nesse processo nos séculos anteriores , sem o contato com o conhecimento especializado.

Por Analogia , hoje nós temos acesso a esse Conhecimento Especializado e sendo assim , podemos sem dúvida alguma transformar de forma rápida as aparentes quedas em grandes realizações , em outras palavras , as Crises do Despertar , conduzem o ser humano a descoberta de uma Vida rica de significados e fascinante.

Hebhert Oliveira – Natureza Celestial